quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

baseado em fatos reais

uma noite comigo mesmo. já que não deu cinema, deu bar. gosto dessa sensação de ao mesmo tempo estar sozinho e cercado de gente, ouvindo impressões e experiências das conversas que escapam das mesas em volta. vou ajeitando a história em que ando trabalhando no fluxo da cerveja e das ideias que vão aparecendo.

uma ideia aparece. aliás, um maluco cheio das ideias. quer comprar alguma coisa, começa o maluco, estou tentando juntar algum prum beque. não duvido que estava... e vai mostrando seus artigos, a maioria é artesanato. quanto a pulseira, pergunto apontando pra um trançado de barbante amarronzado e endurecido, decorado com uma pedra achatada também marrom. é dez, explica, me entregando a peça para avaliação. então eu vou contando as notas de dois da carteira e o cara desenrola outro assunto enquanto espera. tô vendo aí seu relógio, que será que fez a humanidade começar a medir o tempo, a dividir ele em hora, minuto e segundo, uma pergunta que eu vivo me fazendo. ótima pergunta, respondo, tentando dar um gancho para ver o que ele mesmo pensava sobre isso. não sei se é uma boa pergunta, conclui, o tempo virou mercadoria. ninguém mais tem tempo pro tempo.

novamente, o tipo de pensamento que passo o tempo todo pensando. e após um bom gole de cerveja em que ele não me acompanha, apesar da insistência, provoco: eu acho que não é bem a pergunta que te incomoda, mas a resposta.

o cara não diz nada, mas sua cara diz tudo. vou lá buscar a ganja, acrescenta, metade é sua. eu rio, mas me desculpo. hoje não, parceiro, tô de boa, vou só de breja, mesmo. então o filósofo continua: antes de ir embora, eu tenho um desafio; se você acertar, eu te devolvo a grana da pulseira: por que chamam o beque de baseado?

essa história de pensar sobre o tempo me deixou em conexão com aquela mente inquieta, então eu meio que adivinhava o que viria de resposta. mas eu queria garantir o baseado do meu mais recente amigo: não sei, parceiro. e a resposta vem mais ou menos como eu esperava, enriquecida de detalhes que eu não teria pensado. na guerra, cara, eles precisavam dum alívio, você não sabe como é por lá. a gente nunca sabe até viver aquilo. mas os caras precisavam dum alívio e trouxeram a maconha da áfrica, mas faltava seda pra bolar unzinho. aí os cara começaram a usar o papel que tinha pra queimar, boletim de guerra, documento confidencial, jornal, essas coisa!

você tá me dizendo, continuo, que baseado...

isso, cara, e ele também parecia estar conectado comigo e emendou no diálogo, vem de "baseado em fatos reais".

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