Acabei de terminar outro livrinho infantil experimental: "O Menino e o Tempo".
Como o livro anterior, Vamos Brincar de Carrinho?, este também é de livre distribuição e você pode baixar nos formatos CBZ e PDF. Fique a vontade!
O Menino e o Tempo conta a história de Menino, uma criança fazendo uma investigação bastante sofisticada sobre o Tempo. O que achou?
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Pessimismo social em Python
Já algum tempo, venho me incomodando com essa onda de pessimismo generalizado com o Brasil que acompanho na internet. Parece que fomos perdendo a fé em tudo, na política, na democracia, na propensão das pessoas em serem legais umas com as outras. Acho que isso facilita o isolamento individual, desfavorecendo a solidariedade e a empatia, ao mesmo tempo que estimula uma competitividade insana e todo tipo de tolerância.
Não sei, não parece legal viver numa sociedade assim.
Acontece que, trabalhando com TI todo dia, acabo usando os modelos mentais da minha profissão para analisar os problemas em outras áreas - isso é mais forte que eu, não consigo evitar. Assim, como naquele dito do Mark Twain: "para quem tem um martelo, todo problema vira um prego". De qualquer forma, foi pensando em agrupamentos humanos que lembrei que esse problema do "pessimismo social", por se tratar de gente interagindo com gente, podia ser modelado com agentes.
Sendo bem rápido na explicação, os agentes podem ser entendidos como autômatos que interagem uns com os outros, bem como com o ambiente em que vivem, recebendo estímulos ou realizando ações sobre eles. Na primeira figura, você pode verificar o esquema de um agente.
Uma maneira bem simples de implementar as relações entre os agentes é através de uma matriz bidimensional. Como demonstrado na figura ao lado, dependendo da posição do agente na matriz, ele pode ter 3, 5 ou 8 vizinhos: e a vizinhança define uma relação entre os agentes. Dependendo do problema sendo trabalhado, essa simplificação pode ser satisfatória.
O bacana de recorrer a simulações de computador é que suas pesquisas não serão limitadas por um comitê de ética. Você pode, por exemplo, provocar sofrimento em suas cobaias ou pensar em situações constrangedoras para ver como reagem e ninguém vai te criticar por isso - afinal, são só agentes, simulações de computador. Também pode testar cenários diferentes, variando as relações, os comportamentos dos agentes, etc.
Para começar a estudar esse problema do "pessimismo social", pensei num protótipo em Python. O link aponta para código-fonte hospedado no repl.it, de modo que você nem precisa ter um ambiente Python configurado na máquina: pode testá-lo diretamente no browser.
As pessoas dessa simulação são bem simples e tudo o que fazem na vida é receber estímulos negativos ("-") ou nêutros("."). Receber um estímulo negativo faz o humor da pessoa diminuir. Ficar um ciclo sem recebê-lo (isto é, receber um nêutro) permite à pessoa recuperar um pouco do humor anterior. Essa ideia do nêutro pode tanto representar a fuga da pessoa para realidades mais confortáveis quanto um movimento pessoal de otimismo.
A cada ciclo, pessoas são escolhidas aleatoriamente para representar o grupo dos que serão "atingidos" pela onda de pessimismo. O negativo, por enquanto, pode representar qualquer coisa: a tendência dos jornais só mostrarem notícias desesperadoras da realidade do país, a irritação de tanto imposto em janeiro ou uma lida nos últimos posts numa rede social.
Se você rodar o programa com os parâmetros padrão (matriz de 10 x 10 e 100 ciclos de simulação), verá que o humor do grupo passa de da casa dos 75 para a casa dos 50: uma redução de 1/3!
Não sei, não parece legal viver numa sociedade assim.
Acontece que, trabalhando com TI todo dia, acabo usando os modelos mentais da minha profissão para analisar os problemas em outras áreas - isso é mais forte que eu, não consigo evitar. Assim, como naquele dito do Mark Twain: "para quem tem um martelo, todo problema vira um prego". De qualquer forma, foi pensando em agrupamentos humanos que lembrei que esse problema do "pessimismo social", por se tratar de gente interagindo com gente, podia ser modelado com agentes.
Sendo bem rápido na explicação, os agentes podem ser entendidos como autômatos que interagem uns com os outros, bem como com o ambiente em que vivem, recebendo estímulos ou realizando ações sobre eles. Na primeira figura, você pode verificar o esquema de um agente.
Uma maneira bem simples de implementar as relações entre os agentes é através de uma matriz bidimensional. Como demonstrado na figura ao lado, dependendo da posição do agente na matriz, ele pode ter 3, 5 ou 8 vizinhos: e a vizinhança define uma relação entre os agentes. Dependendo do problema sendo trabalhado, essa simplificação pode ser satisfatória.
O bacana de recorrer a simulações de computador é que suas pesquisas não serão limitadas por um comitê de ética. Você pode, por exemplo, provocar sofrimento em suas cobaias ou pensar em situações constrangedoras para ver como reagem e ninguém vai te criticar por isso - afinal, são só agentes, simulações de computador. Também pode testar cenários diferentes, variando as relações, os comportamentos dos agentes, etc.
Para começar a estudar esse problema do "pessimismo social", pensei num protótipo em Python. O link aponta para código-fonte hospedado no repl.it, de modo que você nem precisa ter um ambiente Python configurado na máquina: pode testá-lo diretamente no browser.
As pessoas dessa simulação são bem simples e tudo o que fazem na vida é receber estímulos negativos ("-") ou nêutros("."). Receber um estímulo negativo faz o humor da pessoa diminuir. Ficar um ciclo sem recebê-lo (isto é, receber um nêutro) permite à pessoa recuperar um pouco do humor anterior. Essa ideia do nêutro pode tanto representar a fuga da pessoa para realidades mais confortáveis quanto um movimento pessoal de otimismo.
A cada ciclo, pessoas são escolhidas aleatoriamente para representar o grupo dos que serão "atingidos" pela onda de pessimismo. O negativo, por enquanto, pode representar qualquer coisa: a tendência dos jornais só mostrarem notícias desesperadoras da realidade do país, a irritação de tanto imposto em janeiro ou uma lida nos últimos posts numa rede social.
Se você rodar o programa com os parâmetros padrão (matriz de 10 x 10 e 100 ciclos de simulação), verá que o humor do grupo passa de da casa dos 75 para a casa dos 50: uma redução de 1/3!
Gostou da minha trapizonga?
Trapizonga é uma palavra interessante porque muita gente não a conhece... dá pra fazer brincadeiras com ela.
Por exemplo, como sugeri nesse quadrinho, parece significar o órgão sexual masculino (podia escrever pau ou cacete, mas não queremos matar do coração as almas mais inocentes, não é mesmo?), mas é puro engano.
Eu conhecia no sentido de gambiarra, que se aproxima muito da ideia de monjolo (espécie de moinho) que você pode ver aqui, mas o Priberam nos informa alguns significados adicionais:
1. [Brasil] Mixórdia;
2. Coisas confusas ou desordenadas;
3. Porção de trastes miúdos.
De certa forma, como autor do blogue, fico contente com todos estes significados, tomados um a um ou de uma vez só.
Por exemplo, como sugeri nesse quadrinho, parece significar o órgão sexual masculino (podia escrever pau ou cacete, mas não queremos matar do coração as almas mais inocentes, não é mesmo?), mas é puro engano.
Eu conhecia no sentido de gambiarra, que se aproxima muito da ideia de monjolo (espécie de moinho) que você pode ver aqui, mas o Priberam nos informa alguns significados adicionais:
1. [Brasil] Mixórdia;
2. Coisas confusas ou desordenadas;
3. Porção de trastes miúdos.
De certa forma, como autor do blogue, fico contente com todos estes significados, tomados um a um ou de uma vez só.
O fim da democracia
Ontem, 28/10/2014, meio que a toque de caixa, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) conseguiu derrubar o decreto presidencial que regulamentava a PNPS, a Política Nacional de Participação Popular. Em tempos de defesa da apolitização e de tanto pessimismo com a política e com a classe política, eu via a PNPS como um (pequeno) passo no sentido contrário - a ideia era, justamente, fazer as pessoas se sentirem as donas que são da coisa pública (res publica). Afinal, como aponta Arnold Toynbee:
No meio de tanta crítica orquestrada contra a PNPS, vale a pena citar um artigo que vai na contramão: O que é a Política Nacional de Participação Social, que explica em palavras simples o que é a PNPS. Também é interessante ler o próprio texto da PNPS, DECRETO Nº 8.243, DE 23 DE MAIO DE 2014, para entender do que se trata: um decreto que consolida mecanismos e formas de participação social instituídos pela Constituição de 88 e regulamenta a LEI Nº 10.683, DE 28 DE MAIO DE 2003.
Ou seja, estamos falando de mais democracia, não menos. É uma forma de oferecer ao povo mais voz: em vez de ser chamada de dois em dois anos para contribuir para a democracia com um voto, a PNPS trazia a ideia das pessoas poderem participar mais e melhor das decisões governamentais nos vários instrumentos previstos na Constituição, tal como conselhos, conferências, ouvidorias, processos de participação no ciclo de planejamento e orçamento público, audiências e consultas públicas, mesas de diálogo e negociação, entre outros.
Eu disse trazia! A PNPS, como comecei este artigo, foi derrubada... em vez de avançar mais a democracia brasileira, vamos precisar lutar pelo que já estava conquistado.
"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam."
No meio de tanta crítica orquestrada contra a PNPS, vale a pena citar um artigo que vai na contramão: O que é a Política Nacional de Participação Social, que explica em palavras simples o que é a PNPS. Também é interessante ler o próprio texto da PNPS, DECRETO Nº 8.243, DE 23 DE MAIO DE 2014, para entender do que se trata: um decreto que consolida mecanismos e formas de participação social instituídos pela Constituição de 88 e regulamenta a LEI Nº 10.683, DE 28 DE MAIO DE 2003.
Ou seja, estamos falando de mais democracia, não menos. É uma forma de oferecer ao povo mais voz: em vez de ser chamada de dois em dois anos para contribuir para a democracia com um voto, a PNPS trazia a ideia das pessoas poderem participar mais e melhor das decisões governamentais nos vários instrumentos previstos na Constituição, tal como conselhos, conferências, ouvidorias, processos de participação no ciclo de planejamento e orçamento público, audiências e consultas públicas, mesas de diálogo e negociação, entre outros.
Eu disse trazia! A PNPS, como comecei este artigo, foi derrubada... em vez de avançar mais a democracia brasileira, vamos precisar lutar pelo que já estava conquistado.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
O vira-lata
Já se vai mais ou menos meio século desde que Nelson Rodrigues recorreu ao termo Complexo de Vira-Latas para explicar o pessimismo dos brasileiros de seu tempo com o nosso futebol (vide as várias crônicas n'A Pátria de Chuteiras, ou o n'este backup). Seu estilo era intenso, tal como nesse trechinho:
Bem, este post não é sobre esporte, mas sobre o viralatismo denunciado por Nelson Rodrigues: ele persiste e não é só no futebol, como já não era à época das crônicas. Talvez esteja ainda mais forte nestes tempos de redes socias. Não representa a totalidade do povo brasileiro, mas é uma parcela bastante ativa nessa tarefa que tomaram para si: odiar a própria brasilidade, isto é, sua condição de brasileiro. Desta forma, odeiam o samba, o funk e a lambada, os filmes e o carnaval, os escritores, o clima, a geografia, o governo, o caráter e o próprio povo brasileiro. Não conseguem imaginar um Brasil soberano, muito menos potência regional; na opinião deste conjunto de brasileiros, devíamos assumir logo nossa condição de colonizados, de seres inferiores. Seguem um estilo bem próprio de nacionalismo, baseado no ódio e na falta de empatia com o outro.
Naquele livro do Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma, aparece a ideia de que "ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil" (que parece ter se desenvolvimento originalmente com o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire). Mas acho que não, o pensamento deveria ser reescrito da seguinte forma: ou o Brasil acaba com o Complexo de Vira-Latas,ou o Complexo de Vira-Latas acaba com o Brasil. Não é só a torcida grande do contra que fode a bagaça, tão contaminando gente que não estava assim, pessimista.
Em outras palavras, por mais ingênuo, trapalhão e determinado que Policarpo seja descrito na obra, o fato é que estamos precisando de mais gente ao modo dele. Tá foda...
Foi preciso que jornais alemães, franceses, húngaros, tchecos, ingleses berrassem para nós: - "Vocês são os maiores".Nas várias crônicas a gente verifica um Nelson exasperado: uma geração de craques brilhantes - artistas! - e praticamente toda a população e imprensa não sabendo reconhecer seu valor, exigindo que esses craques criativos tentassem imitar o futebol europeu. Só porque não podiam supor que brasileiros pudessem fazer um futebol melhor...
Bem, este post não é sobre esporte, mas sobre o viralatismo denunciado por Nelson Rodrigues: ele persiste e não é só no futebol, como já não era à época das crônicas. Talvez esteja ainda mais forte nestes tempos de redes socias. Não representa a totalidade do povo brasileiro, mas é uma parcela bastante ativa nessa tarefa que tomaram para si: odiar a própria brasilidade, isto é, sua condição de brasileiro. Desta forma, odeiam o samba, o funk e a lambada, os filmes e o carnaval, os escritores, o clima, a geografia, o governo, o caráter e o próprio povo brasileiro. Não conseguem imaginar um Brasil soberano, muito menos potência regional; na opinião deste conjunto de brasileiros, devíamos assumir logo nossa condição de colonizados, de seres inferiores. Seguem um estilo bem próprio de nacionalismo, baseado no ódio e na falta de empatia com o outro.
Naquele livro do Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma, aparece a ideia de que "ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil" (que parece ter se desenvolvimento originalmente com o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire). Mas acho que não, o pensamento deveria ser reescrito da seguinte forma: ou o Brasil acaba com o Complexo de Vira-Latas,ou o Complexo de Vira-Latas acaba com o Brasil. Não é só a torcida grande do contra que fode a bagaça, tão contaminando gente que não estava assim, pessimista.
Em outras palavras, por mais ingênuo, trapalhão e determinado que Policarpo seja descrito na obra, o fato é que estamos precisando de mais gente ao modo dele. Tá foda...
Um meme de 500 anos
Um exercício mental: imagine que não mais as pessoas, mas as ideias sejam os atores. Aqui, o termo "ideia" usado num sentido bem amplo, isto é, qualquer coisa que possa se replicar entre mentes, por qualquer forma de comunicação que puder pensar.
É em torno dos memes, de como eles se replicam, interagem, fundem, dividem-se ou transformam-se, bem como são manipulados nas mentes das pessoas que a memética se estrutura. Eu sei que é meio chocante colocar ideias num plano mais importante que o das pessoas, vistas aqui mais como meros receptáculos de ideias, mas a tática talvez seja não ligar muito pra isso. Quer dizer, a memética é uma ferramenta; se oferecer resultados úteis para seu trabalho, use-a.
E o que tem todo esse texto sobre memes e memética a ver com o desenho que estou publicando?
Estava aqui pensando que existe um meme circulando pela mentalidade brasileira desde os tempos do "descobrimento":
X é vagabundo.
Por todos estes mais de 500 anos, X tem variado conforme a necessidade de quem replica este tipo de meme: índio, preto, pobre, camponês, analfabeto, etc. Mas apesar de todas as diferenças, é possível capturar uma categoria aí: gente pertencente a um grupo ou classe social que se deseja controlar ou submeter.
O que faz com que um meme como esse se perpetue? Algumas coisas me vêm a mente, tal como xenofobia, descaracterização/desumanização do outro grupo, carência afetiva... não sei. Pode até ser que suma por algum tempo da memória coletiva, mas o molde estará sempre lá, disponível até a próxima necessidade.
É em torno dos memes, de como eles se replicam, interagem, fundem, dividem-se ou transformam-se, bem como são manipulados nas mentes das pessoas que a memética se estrutura. Eu sei que é meio chocante colocar ideias num plano mais importante que o das pessoas, vistas aqui mais como meros receptáculos de ideias, mas a tática talvez seja não ligar muito pra isso. Quer dizer, a memética é uma ferramenta; se oferecer resultados úteis para seu trabalho, use-a.
E o que tem todo esse texto sobre memes e memética a ver com o desenho que estou publicando?
Estava aqui pensando que existe um meme circulando pela mentalidade brasileira desde os tempos do "descobrimento":
X é vagabundo.
Por todos estes mais de 500 anos, X tem variado conforme a necessidade de quem replica este tipo de meme: índio, preto, pobre, camponês, analfabeto, etc. Mas apesar de todas as diferenças, é possível capturar uma categoria aí: gente pertencente a um grupo ou classe social que se deseja controlar ou submeter.
O que faz com que um meme como esse se perpetue? Algumas coisas me vêm a mente, tal como xenofobia, descaracterização/desumanização do outro grupo, carência afetiva... não sei. Pode até ser que suma por algum tempo da memória coletiva, mas o molde estará sempre lá, disponível até a próxima necessidade.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Rudimentos de lógica na análise de discursos
A linguagem humana, ao mesmo tempo que sofisticada, também pode ser bastante confusa. A tal ponto que pode nos levar a pensamentos ou conclusões equivocadas sobre um determinado fato. Dependendo da situação, alguns rudimentos de Lógica são suficientes para esclarecer o discurso e decidir se ele é consistente ou não.
Por exemplo, considere uma sentença comum no facebook por estes dias:
A1: "Todo beneficiário do Bolsa Família é vagabundo".
Minha experiência em assuntos humanos sugere que este tipo de generalização não é consistente, mas como ter certeza? Podemos decompor a sentença A1 em:
b(x) = beneficiário do Bolsa Família
v(x) = vagabundo()
Assim, a sentença seria facilmente reescrita como: para_todo x, b(x) -> v(x) (lê-se: "para todo x, se b(x), então v(x)"). De outra forma, basta um caso de x que não atenda ao operador SE, isto é, ser beneficiário do Bolsa Família, mas não ser vagabundo, que a afirmação original se torna inconsistente. De fato, de acordo com os dados de Tereza Campello, Ministra do Desenvolvimento Social e do Combate a Fome (http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/10/07/campello-desmonta-o-preconceito-contra-o-bolsa/), analisando a PEA (População Economicamente Ativa) beneficiária do programa, 75% trabalha. Desta forma, se trabalhar significa não ser vagabundo, temos aí um bom número de x que derruba a sentença original. E olha que bastava um x...
Como curiosidade, a luz das novas informações, a sentença poderia ser escrita como: existe x, b(x) -> v(x) (lê-se: "existe x tal que se b(x), então v(x)"). Uma afirmação bem menos bombástica, não?
A lógica também permite análises mais sofisticadas. Por exemplo, considere a seguinte sentença, onde vamos verificar o operador OU:
A2: "Todo crítico que apela a sentença A1 ou é ignorante ou age de má-fé".
Ok, a sentença A2 pode ser decomposta em:
c(x) = critica o BF por A1
i(x) = é ignorante (isto é, desconhece os dados sobre o programa BF)
m(x) = age de má-fé (isto é, conhece os dados mas apela a uma falácia para defender sua posição)
Agora, A2 pode ser reescrita como: para_todo x, c(x) -> (i(x) ou m(x)) (lê-se: "para todo x, se c(x), então é i(x) ou m(x)"). Posto de outra forma, com A2 estamos indicando que a pessoa que recorre a A1 ou é ignorante ou age de má-fé. O que nos permite a análise do propósito do discurso. Por exemplo, a ignorância, de certa forma, é um fim nela mesma e, de qualquer forma, pode ser combatida com esclarecimento. Já no caso de má-fé, convém avaliar qual o intuito de quem está apelando à falácia para defender sua posição, mas isso já começa a fugir do assunto inicial.
Por exemplo, considere uma sentença comum no facebook por estes dias:
A1: "Todo beneficiário do Bolsa Família é vagabundo".
Minha experiência em assuntos humanos sugere que este tipo de generalização não é consistente, mas como ter certeza? Podemos decompor a sentença A1 em:
b(x) = beneficiário do Bolsa Família
v(x) = vagabundo()
Assim, a sentença seria facilmente reescrita como: para_todo x, b(x) -> v(x) (lê-se: "para todo x, se b(x), então v(x)"). De outra forma, basta um caso de x que não atenda ao operador SE, isto é, ser beneficiário do Bolsa Família, mas não ser vagabundo, que a afirmação original se torna inconsistente. De fato, de acordo com os dados de Tereza Campello, Ministra do Desenvolvimento Social e do Combate a Fome (http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/10/07/campello-desmonta-o-preconceito-contra-o-bolsa/), analisando a PEA (População Economicamente Ativa) beneficiária do programa, 75% trabalha. Desta forma, se trabalhar significa não ser vagabundo, temos aí um bom número de x que derruba a sentença original. E olha que bastava um x...
Como curiosidade, a luz das novas informações, a sentença poderia ser escrita como: existe x, b(x) -> v(x) (lê-se: "existe x tal que se b(x), então v(x)"). Uma afirmação bem menos bombástica, não?
A lógica também permite análises mais sofisticadas. Por exemplo, considere a seguinte sentença, onde vamos verificar o operador OU:
A2: "Todo crítico que apela a sentença A1 ou é ignorante ou age de má-fé".
Ok, a sentença A2 pode ser decomposta em:
c(x) = critica o BF por A1
i(x) = é ignorante (isto é, desconhece os dados sobre o programa BF)
m(x) = age de má-fé (isto é, conhece os dados mas apela a uma falácia para defender sua posição)
Agora, A2 pode ser reescrita como: para_todo x, c(x) -> (i(x) ou m(x)) (lê-se: "para todo x, se c(x), então é i(x) ou m(x)"). Posto de outra forma, com A2 estamos indicando que a pessoa que recorre a A1 ou é ignorante ou age de má-fé. O que nos permite a análise do propósito do discurso. Por exemplo, a ignorância, de certa forma, é um fim nela mesma e, de qualquer forma, pode ser combatida com esclarecimento. Já no caso de má-fé, convém avaliar qual o intuito de quem está apelando à falácia para defender sua posição, mas isso já começa a fugir do assunto inicial.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Democracia de espetáculo
Talvez seja inocência demais supor imparcialidade - de gente, de instituições, de órgãos de imprensa. Todos temos nossos posicionamentos - até "não ter um posicionamento" já é um posicionamento - e seria mais coerente que cada um o declarasse abertamente.
Gosto muito do conceito defendido pelo Chomsky, sobre a "democracia de espetáculo". A você, cidadão ou eleitor, garante-se o direito de ter uma opinião - que será devidamente elaborada pelos grupos que brigam pelo poder.
Pessoalmente, fico muito preocupado com a infantilidade com que estamos lidando com tudo isso, como se tudo pudesse ser reduzido à luta entre o bem contra o mal.
Uma pena para a democracia, uma tragédia para nós.
Gosto muito do conceito defendido pelo Chomsky, sobre a "democracia de espetáculo". A você, cidadão ou eleitor, garante-se o direito de ter uma opinião - que será devidamente elaborada pelos grupos que brigam pelo poder.
Pessoalmente, fico muito preocupado com a infantilidade com que estamos lidando com tudo isso, como se tudo pudesse ser reduzido à luta entre o bem contra o mal.
Uma pena para a democracia, uma tragédia para nós.
Tempo Livre
O filósofo alemão Theodor Adorno escreveu um texto muito interessante sobre o Tempo Livre (está em formato PDF nesse link), onde argumenta que o tal do tempo livre não é bem seu e que mesmo naquelas situações em que você busca fugir do sistema, continua dentro dele, apenas de outra maneira. Como no exemplo do camping: você, cansado dessa sociedade consumista é incentivado a fazer camping e consumir um rol de produtos e serviços que vão te afastar dessa sociedade consumista. Você caiu numa recursão (termo da Computação).
Decidi revisitar a discussão do tempo livre, dando meus próprios pitacos.
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Imaginação
Descobri recente o prazer de andar sempre com um caderno; afinal, nunca se sabe quando vai aparecer um impulso criativo.
Outro dia, numa tarde deliciosa em família, vendo o pequeno brincar, comecei a viajar sobre o assunto "Imaginação". Além do desenho, rabiscado no caderno, saiu isso aqui:
Olha o menino solto ali,
está em seu mundinho inventado:
já foi rei do castelo colorido,
motorista do carrinho enferrujado.
Agora...
Bem, agora virou marceneiro.
É que havia brinquedo para ser consertado.
Outro dia, numa tarde deliciosa em família, vendo o pequeno brincar, comecei a viajar sobre o assunto "Imaginação". Além do desenho, rabiscado no caderno, saiu isso aqui:
Olha o menino solto ali,
está em seu mundinho inventado:
já foi rei do castelo colorido,
motorista do carrinho enferrujado.
Agora...
Bem, agora virou marceneiro.
É que havia brinquedo para ser consertado.
Somos todos iguais...
Interessante como o discurso sobre igualdade ou liberdade ganha sentidos próprios na boca de cada um. O que é igualdade para você?
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Vamos brincar de carrinho?
Existe brincadeira de menina? Existe brincadeira de menino? Foi para tentar responder a esta pergunta que decidi escrever este livro infantil, que conta um pouco da pequena Sofia, uma garota curiosa e criativa que recebe muito apoio dos pais.
Depois de escrever e ilustrar a história, decidi testá-la com meu próprio filho. Foi uma experiência que valeu a pena e justificou todo o trabalho porque enquanto o garoto (4 anos) achava normal que meninas brincassem de carrinho, ficou um tanto chocado com a possibilidade das meninas brincarem de bola. Para ele, futebol, sim, era coisa de menino. Precisei mostrar alguns vídeos da Marta batendo um bolão para ele se convencer que essa história de futebol ser só para meninos era bobagem. =]
De qualquer forma, o livrinho está aí. É gratuito e de livre distibuição; quer dizer, qualquer pessoa pode baixar, compartilhar, copiar, imprimir ou distribuir a vontade, sem qualquer risco de penalidade. Os links para os formatos CBR e PDF estão a seguir:
Vamos brincar de carrinho? (Formato CBR)
Vamos brincar de carrinho? (Formato PDF)
Depois de escrever e ilustrar a história, decidi testá-la com meu próprio filho. Foi uma experiência que valeu a pena e justificou todo o trabalho porque enquanto o garoto (4 anos) achava normal que meninas brincassem de carrinho, ficou um tanto chocado com a possibilidade das meninas brincarem de bola. Para ele, futebol, sim, era coisa de menino. Precisei mostrar alguns vídeos da Marta batendo um bolão para ele se convencer que essa história de futebol ser só para meninos era bobagem. =]
De qualquer forma, o livrinho está aí. É gratuito e de livre distibuição; quer dizer, qualquer pessoa pode baixar, compartilhar, copiar, imprimir ou distribuir a vontade, sem qualquer risco de penalidade. Os links para os formatos CBR e PDF estão a seguir:
Vamos brincar de carrinho? (Formato CBR)
Vamos brincar de carrinho? (Formato PDF)
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