terça-feira, 28 de outubro de 2014

Um meme de 500 anos

Um exercício mental: imagine que não mais as pessoas, mas as ideias sejam os atores. Aqui, o termo "ideia" usado num sentido bem amplo, isto é, qualquer coisa que possa se replicar entre mentes, por qualquer forma de comunicação que puder pensar.

É em torno dos memes, de como eles se replicam, interagem, fundem, dividem-se ou transformam-se, bem como são manipulados nas mentes das pessoas que a memética se estrutura. Eu sei que é meio chocante colocar ideias num plano mais importante que o das pessoas, vistas aqui mais como meros receptáculos de ideias, mas a tática talvez seja não ligar muito pra isso. Quer dizer, a memética é uma ferramenta; se oferecer resultados úteis para seu trabalho, use-a.

E o que tem todo esse texto sobre memes e memética a ver com o desenho que estou publicando?

Estava aqui pensando que existe um meme circulando pela mentalidade brasileira desde os tempos do "descobrimento":

X é vagabundo.

Por todos estes mais de 500 anos, X tem variado conforme a necessidade de quem replica este tipo de meme: índio, preto, pobre, camponês, analfabeto, etc. Mas apesar de todas as diferenças, é possível capturar uma categoria aí: gente pertencente a um grupo ou classe social que se deseja controlar ou submeter.

O que faz com que um meme como esse se perpetue? Algumas coisas me vêm a mente, tal como xenofobia, descaracterização/desumanização do outro grupo, carência afetiva... não sei. Pode até ser que suma por algum tempo da memória coletiva, mas o molde estará sempre lá, disponível até a próxima necessidade.

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